sexta-feira, 10 de junho de 2011

09/06/2011

Dessa vez foi embora. Sem dizer. Sem transparecer. Apenas se foi. Me lembro de ter ouvido um: eu te amo (ou algo muito semelhante). Mas pareceu tão baixo, tão absurdamente insignificante, que achei conveniente deixar pra lá, como quem deixa um cigarro não terminado no ponto de ônibus. Topei que se aquele era o amor, o vazio seria de extrema semelhança. Não me leve a mal, meu caro, mas tendo em mão tão, tão pouco, era melhor o não-ter. O nada. Ao menos uma coisa seria certa: o não. Bem seria capaz de viver sem esse resto que me havia sobrado. Restos, raspas, migalhas. Burguesinha criada na zona sul rastejando por raspas de um pseudo romance. Ironia do destino. Mas não me envergonho de dizer - em alto e bom som - que amei. Amei a estupidez. Amei as luzes da cidade. Amei os lençóis e os copos de cerveja. Amei por cada palavra não dita. Cada beijo esquecido. Cada lágrima escorrida. Amei o desconhecido. Idealizado e decepcionante. Sleep now in the fire. Era o fim. Concretizado. Cômico de se pensar no fim do que nunca começou de fato. Beijos e abraços. Amassos e reticências. Era essa a paixão enlouquecedora que roubava descaradamente a sanidade e cuspia - bem na cara - o restolho de dignidade que ainda havia. Foi embora. Pagou a conta e deixou como gorjeta um vazio: mudo, surdo, cego, negro, intacto. Trágico. Típico Romeu e Julieta menos estruturado sem final feliz. Tornou-se distante. Intocável. Fora de cogitação. Um verdadeiro colapso. Pareceu com um amor da XV: bem pago, mal resolvido e não terminado. Amor de prostituta. Sujinho, sem luzes de neón ou coisa do gênero. Rápido. Insano. Brutal. Translúcido. Sem crenças. Sem dívidas. E sem volta.